Nos últimos anos, o setor de Tecnologia da Informação (TI) no Brasil tem experimentado um crescimento exponencial, refletindo diretamente nas escolhas acadêmicas dos jovens brasileiros. Pela primeira vez, o número de ingressantes em cursos superiores ligados à TI ultrapassou o de áreas tradicionais, como administração e direito e até mesmo medicina, indicando uma tendência clara de digitalização e inovação no mercado de trabalho.
Na Universidade Federal de Goiás (UFG), por exemplo, os cursos de Inteligência Artificial (IA) e de Engenharia de Software ultrapassaram o de Medicina pela primeira vez como os mais concorridos conforme resultado do SISU 2025. E de acordo com o último Censo da Educação Superior, que foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as matrículas em cursos tecnológicos representaram 20,4% do total de matrículas de graduação realizadas entre 2022 e 2023, com 82,4% delas em cursos de Educação a Distância (EaD). Esse aumento significativo demonstra o interesse crescente dos estudantes por áreas como Ciência da Computação, Engenharia de Software e Análise e Desenvolvimento de Sistemas, fundamentais para o setor de TI.
Para Sylvestre Mergulhão, CEO da Impulso, People Tech que, há 14 anos, é orientada ao aumento de capacidade e produtividade de médias e grandes empresas, e que tem se posicionado como protagonista na transformação digital do setor de Recursos Humanos, estamos vivendo um momento crucial para o setor de TI no Brasil. “Ver a busca por cursos de tecnologia superando até mesmo áreas tradicionalmente prestigiadas, como Medicina, mostra que os jovens estão atentos às demandas do mercado. Essa mudança traz um grande desafio: garantir que as empresas estejam prontas para absorver e desenvolver essa nova geração de profissionais”, explica ele.
A expansão das carreiras na área é impulsionada também pela necessidade constante de inovação nas empresas. O mercado de TI no Brasil está entre os que mais crescem, com projeções indicando a criação de 797 mil novas vagas até este ano, segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), e 972 mil vagas até 2027, segundo mapa do Observatório Nacional da Indústria (ONI). No entanto, a formação de profissionais não tem acompanhado esse ritmo, resultando em um déficit anual estimado de 106 mil talentos.
O perfil do setor tecnológico no Brasil
De acordo com a análise de tendências da International Data Corporation (IDC) para 2025, o mercado brasileiro de Tecnologia da Informação (TI) Business-to-Business (B2B) está projetado para crescer 13% neste ano. Este aumento é impulsionado por um foco significativo em produtividade, além de estratégias voltadas para a atração e retenção de clientes. Este crescimento supera as expectativas para a América Latina, que tem uma projeção de 11%, e para os Estados Unidos, com 12%. O movimento é uma continuação do progresso observado em 2024, quando o setor de TI B2B no país cresceu 9%.
Além disso, o setor tecnológico brasileiro alcançou um faturamento de R$ 707,7 bilhões, consolidando o país como o 10º maior produtor de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no mundo, representando 30% do mercado de TIC na América Latina. Para se ter uma ideia, o macrossetor, apenas em 2023, empregou 2,05 milhões de profissionais, correspondendo a 4% dos empregos nacionais, com a criação de 29 mil novos postos de trabalho e uma média salarial 2,1 vezes superior à média nacional.
“Com a crescente digitalização e a adoção de tecnologias emergentes, como inteligência artificial, computação em nuvem e cibersegurança, a demanda por profissionais qualificados tornou-se um desafio para as empresas de TI. Startups e grandes corporações estão constantemente em busca de talentos capacitados, oferecendo pacotes de benefícios atrativos e investindo em programas de capacitação para suprir a lacuna de habilidades no mercado”, comenta.
Perspectivas globais e nacionais para o mercado de trabalho
De acordo com o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025 do Fórum Econômico Mundial, as mudanças no mercado de trabalho deverão afetar 22% dos empregos até 2030, com a criação de 170 milhões de novas funções e a extinção de 92 milhões, resultando em um aumento líquido de 78 milhões de empregos. Avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, são apontados como fatores-chave para essas transformações.
No contexto brasileiro, o Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027, elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI), prevê a necessidade de qualificar cerca de 14 milhões de profissionais até 2027. Desse total, 2,2 milhões referem-se à formação inicial para repor inativos e preencher novas vagas, enquanto 11,8 milhões correspondem ao treinamento e desenvolvimento de trabalhadores que precisam se atualizar.
Esses dados reforçam a importância de iniciativas que promovam a qualificação e requalificação de profissionais, especialmente em áreas tecnológicas, para atender às demandas de um mercado em constante evolução. “Na Impulso, acreditamos que investir no desenvolvimento de talentos é essencial para garantir um futuro sustentável para o setor de tecnologia no Brasil”, finaliza Mergulhão.