A imagem do trabalhador da construção civil misturando cimento em “caixotes de massa”, sem equipamentos de proteção, está ficando para trás. A realidade dos canteiros de obras no Brasil mudou significativamente nas últimas décadas, impulsionada pelo avanço tecnológico. Hoje, ferramentas como Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), realidade virtual e monitoramento remoto fazem parte da rotina de muitas construtoras, trazendo ganhos em produtividade e exigindo profissionais mais qualificados.
Segundo pesquisa da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), realizada em 2023 com 163 empresas do setor, um terço delas já possui áreas dedicadas exclusivamente à tecnologia ou IA. Os dados mostram uma ampla variedade de aplicações, que vão desde o monitoramento com sensores e modelagem de desgaste até planejamento logístico, previsões de falhas e automação de processos de vendas e atendimento ao cliente.
Para David Fratel, diretor-executivo de engenharia do grupo Kallas e conselheiro do Sinduscon-SP, o avanço tecnológico tem proporcionado ganhos concretos. “O uso da tecnologia ganhou um forte impulso nos últimos anos e tende a se desenvolver ainda mais, na medida em que pode trazer eficiência, aumento de produtividade, elevação da qualificação profissional, redução de custos e ganhos de margens para as companhias”, afirma.
Inovação em todas as etapas
Na Kallas, o uso da IA está integrado a sistemas de fotogrametria – tecnologia que transforma fotografias em dados tridimensionais – para monitoramento contínuo da evolução das obras. A empresa também implementou a digitalização completa das plantas e orientações técnicas por meio da plataforma Construcode. Desde 2019, mais de 333 mil projetos e 1,9 milhão de documentos digitalizados já foram acessados cerca de 370 mil vezes via QR Code diretamente nos smartphones dos operários.
Outro destaque é a adoção de uma solução inédita baseada em IoT, desenvolvida em parceria com a Trackfy, que permite monitorar em tempo real o número e a localização dos colaboradores nas frentes de serviço. O sistema cruza os dados de presença com o planejamento da obra, permitindo ajustes e análises baseadas em ciência de dados. Por exemplo, é possível verificar se o número de trabalhadores atuando nas instalações elétricas de um determinado andar está de acordo com o previsto para aquela etapa do cronograma.
Redução de erros antes do início da obra
A construtora também utiliza tecnologia de laser scan combinada ao modelo BIM (Building Information Modeling) para mapear, com precisão, os terrenos recém-demolidos. O objetivo é reduzir erros nos projetos antes mesmo do início da construção. De acordo com Fratel, mais de 300 mil metros quadrados já foram avaliados com esse recurso, contribuindo para minimizar retrabalhos e evitar desperdícios.
A digitalização da construção civil brasileira segue em ritmo acelerado e demonstra que a combinação entre inovação e planejamento é um dos caminhos mais promissores para o aumento da eficiência no setor. A era do cimento no “caixote” vai dando lugar aos dados na nuvem.
