Distinguir práticas sustentáveis de greenwashing é um desafio importante num universo cada vez mais atento aos projetos ESG. Nesse cenário, a tecnologia blockchain, inicialmente associada às criptomoedas, promete garantir a rastreabilidade no setor de energia e ampliar a segurança contra fraudes. De acordo com o estudo ESG Disclosure Yearbook Brasil 2024, por exemplo, 63% das empresas divulgaram relatórios de sustentabilidade, mas apenas 29% delas fazem parte do grupo que integra o segmento de governança mais rigoroso da bolsa brasileira e tiveram seus dados auditados externamente. Destacando a fragilidade na verificação de informações associadas a padrões rigorosos de governança.
De acordo com Paulo Menzzano, Vice-Presidente de Application Services & Payments da NAVA Technology for Business, empresa especializada em soluções tecnológicas, o uso de blockchain representa benefícios importantes e com impacto positivo no setor de energia. Confira os três principais aspectos:
1- Transparência e credibilidade – O blockchain possibilita a verificação da origem da energia consumida, garantindo que as empresas cumpram suas promessas ambientais e previnam práticas de greenwashing. Isso eleva a confiabilidade das informações divulgadas, assegurando que apenas a energia renovável receba certificação da geração de energia limpa e convertida em créditos de carbono.
2- Impulso ao comércio de energia – o rastreamento possibilita a venda direta de excedentes de energia entre consumidores, tornando o mercado mais dinâmico e eficiente. Além disso, ao apoiar as transações comerciais, a tecnologia permite a digitalização de infraestruturas, como fazendas solares e turbinas eólicas, o que impulsiona a liquidez do setor e amplia o acesso de investidores.
3- Apoio a práticas empresariais responsáveis: – o uso do blockchain fortalece as práticas ambientais, sociais e de governança (ESG), especialmente ao permitir que as empresas provem, de maneira clara e confiável, o compromisso com a sustentabilidade. Isso acontece porque a tecnologia permite que empresas registrem de forma imutável informações sobre suas cadeias de suprimento, impactos ambientais, práticas trabalhistas e decisões de governança, facilitando auditorias e comprovações de conformidade com padrões sustentáveis, contribuindo para o processo de governança.
“Apesar das vantagens do blockchain, há um longo caminho a ser percorrido para que o rastreamento de energia se torne uma prática comum no Brasil. Isso porque o país ainda enfrenta desafios como a limitação na capacidade de processar grandes volumes de transações, além das barreiras regulatórias que precisam ser superadas. Nesse sentido, há uma expectativa em relação aos avanços que serão viabilizados pelo Projeto de Lei nº 3.434/2024, que visa regulamentar o uso de tokens para ativos ambientais digitais”, diz Menzzano
A partir da aprovação do PL, o Brasil poderá aproveitar benefícios do blockchain para sua diversa matriz energética, que já possui uma robusta capacidade de geração sustentável, com demanda crescente nos últimos anos. A tokenização amplia a possibilidade de alcançar uma comprovação ainda mais confiável, além de favorecer o fracionamento de ativos energéticos, um diferencial importante na atração e democratização de investidores ESG de todos os portes.